Obesidade

O obeso sofre de discriminação, isto é um facto. Poderá ser uma discriminação subtil, mas não deixa de sê-lo.

 

 

 

Numa sociedade onde um corpo perfeito, esguio, saudavelmente musculoso, um caminhar de passo leve é cada vez mais aceite, assiste-se hoje a uma das mais perigosas e destrutíveis formas de discriminação. A obesidade é, sem qualquer dúvida, uma das mais perigosas formas de discriminação social.

 

 

 

A aceitação pública dessa forma de discriminação, a preceito de uma defesa algo ambígua do bem-estar e da saúde, tem marcado as mentes do colectivo social, a ponto de se considerar como exemplo de uma mulher perfeita a que mais se aproxima da anorexia, a bulimia, enfim, a magreza escanzelada.

 

 

 

Ser-se gordo numa sociedade como a nossa, significa, para muitos viver em permanente auto-flagelação, privações de sentimentos tão simples como aceitar a forma de um corpo diferente, amar e ser amado. Significa, sobretudo, uma luta permanente contra um omnipresente preconceito que todos nós alimentamos a cada dia que passa.

 

 

 

Acontece que, uma pessoa gorda não é discriminada por ser africana, chinesa, emigrante ou, ainda, por não ter uma perna ou um braço – como se isso, também fosse aceitável. É discriminada, pura e simplesmente, por ser gorda, por ser mais larga e maior do que o normal! Como se tivesse algum defeito de nascença, um sinal, uma doença contagiosa, um mau-olhado permanente. Carrega a todas as horas um fardo mais pesado do que o do seu corpo.

 

 

 

O olhar omnipresente de quem critica para destruir, para se sentir superior. Se, por exemplo, está sentada em qualquer canto de um café, de um restaurante, logo é crismada de gorda, gulosa, feia e inútil.

 

 

 

 

 

 

Esta forma de discriminação é tão forte que a nossa sociedade permite que passem anúncios de televisão onde o gordo aparece sempre com a imagem de bobo da corte, de pessoa a quem nós podemos bater à-vontade, como se fossem bonecos insufláveis, nos braços, nas costas ou em qualquer outro local mais “fofo” porque… não vai doer… é gordo e por isso a gordura tapa-lhe a dor.

 

 

 

Hoje em dia, a sociedade bombardeia-nos com “supostas” soluções para o problema da obesidade. Alimentos diet dos mais variados tipos enchem as prateleiras dos supermercados; a qualquer momento somos surpreendidos com novas medicações milagrosas para emagrecer; as revistas e jornais ocupam páginas com reportagens sobre o emagrecimento que contêm uma unânime mensagem: “Depende de si mudar a sua vida”, isto é, ser gordo é mesmo uma questão de escolha.

 

 

Será que realmente resulta desta forma?

 

 

O que podemos afirmar com certeza é que a exclusão social só agrava um problema, que já é suficientemente preocupante. Não discriminar um indivíduo obeso, significa possibilitar-lhe uma maior qualidade de vida, permitir que ele possa conviver e lutar para a resolução do seu problema, sem ter mais este peso, o peso da exclusão social.

 

 

A obesidade é um problema que está cada vez mais presente na nossa sociedade, sociedade, esta, que idealiza o magro e crucifica o gordo.

 

 

 

É um problema de saúde, e na maior parte das vezes é genético.

 

 

 

 

 

Uma vez que a obesidade acarreta problemas da ordem física e psicológica, devemos tratá-los e não discriminá-los!

 

 

Talvez possamos questionar se esta discussão é relevante diante de tantas descriminações e desigualdades que presenciamos no nosso quotidiano: discriminação para com as mulheres, discriminações para com pessoas com deficiências, descriminações raciais, desigualdades socio-económicas, entre tantas outras.

 

 

Seria o problema da discriminação para com o obeso pouco relevante?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

IOL DIÁRIO

 

«Não gostamos de gordos»

Obesidade tem consequências sociais graves. Mulheres sofrem mais…

 

Por CLÁUDIA LIMA DA COSTA – 02 de Maio de 2007

 

 

 

Os obesos têm menos empregos, menos amigos e mais dificuldade em casar. As mulheres são as mais afectadas por uma exclusão que vem de todos os sectores da sociedade. O Ministério da Saúde apresentou uma plataforma para mudar comportamentos e combater a «epidemia do século».

 

 

A obesidade é uma doença com pesadas consequências sociais. Para além de todas as complicações físicas, a «gordura a mais» leva os outros a «pôr de lado» crianças, adultos, idosos, homens e mulheres. «As pessoas não gostam de gordos. São segregados pela sociedade» concluiu ao PortugalDiário João Breda, nutricionista e coordenador da Plataforma Contra a Obesidade.

 

 

Na apresentação efectuada pelo responsável foram divulgados dados que ilustram a exclusão social de que os gordos são vítimas. A rejeição começa logo nos mais novos. Cerca de sete por cento das crianças, quando questionadas, recusam a ideia de ter um melhor amigo com excesso de peso. Também existem estudos que indicam piores resultados escolares entre os jovens com excesso de peso, assim como um menor acesso ao ensino superior.

 

 

Nas empresas, os casos de exclusão também são comuns. Cerca de 80 por cento dos directores gerais de companhias do Reino Unido admitiram ter preconceitos contra os obesos e 93 por cento admitiram que, em igualdade de qualificações, dariam emprego a um candidato não obeso, em detrimento de um gordo.

 

«As atitudes negativas chegam a vir dos profissionais de saúde», salientou João Breda. A gordura atinge todos, mas o sexo feminino sofre mais na carteira. As mulheres obesas recebem, em geral, menos nove por cento do rendimento salarial e, como consequência, recebem três vezes mais apoios da Segurança Social e da Saúde.

 

 

Nas relações íntimas, os dados comprovam o que muitos experimentam na pele. Ter um namorado ou um marido é mais difícil para os obesos. Os gordos têm menos 20 por cento de probabilidade de ter uma relação amorosa. A falta de auto-estima e a depressão são consequências directas. A obesidade «é um pesado fardo na auto-estima e sobre a vontade de viver», salientou o ministro da Saúde, Correia Campos.

 

 

Segundo o nutricionista João Breda, está instalado um novo paradigma social, em que os mais pobres têm maior risco de serem obesos, ao apresentarem piores hábitos alimentares e menor actividade física.

 

 

A obesidade tem consequências mais graves para as mulheres, para os que são obesos desde crianças e para aqueles que são mais gordos. A epidemia que, para Correia Campos é uma doença «evitável», é também responsável por dois a oito por cento dos custos de Saúde e por 10 a 13 por cento da mortalidade em diferentes países da Europa.